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Alimentação e moradia: direitos humanos conectados - Campo Magro (PR)


Especial 8M: Mulheres que alimentam a resistência

Foi em torno da estruturação da cozinha comunitária que um conjunto de mulheres - recém chegadas à iniciante Ocupação Nova Esperança, em Campo Magro (PR) - organizou sua prática política de contribuição ao coletivo de famílias que a cada dia se avolumava na área de 42 alqueires. Do preparo de alimentos para as 600 famílias residentes em maio de 2020, momento da ocupação da área, às atuais 1200 famílias, as mulheres fizeram da cozinha um lugar de encontro de histórias semelhantes de vida e de cuidado ao vital direito à alimentação. “As mulheres que cozinham que tiveram a iniciativa de criar a cozinha. Elas que disseram que era preciso ter esse espaço”, aponta uma das lideranças da ocupação, Kelli Cordeiro. 

Oriundas de diversas partes da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) e da capital paranaense, centenas de famílias ficaram sem dinheiro para o aluguel em meio à crise gerada pelo coronavírus. Sem apoio do poder público para assegurar renda para moradia, a área pública sem função social desde 2009 pertencente à Prefeitura de Curitiba e atualmente cedida ao Governo do Paraná foi o pouso encontrado pelas pessoas para tentar se proteger à uma pandemia que se instala, com ainda mais força, entre a população periférica.

A cozinha comunitária tem sido, desde então, um dos primeiros locais de acolhimento a quem foge do abandono e da violência estatal, da crise econômica e da fome. “As pessoas vem sem panela, sem alimento, e a gente montou a cozinha comunitária para ajudar quem vem atrás de um lote, pra ter um local para comer e tomar um café até conseguir um lugar para ficar”, relata a coordenadora da cozinha, Juliana dos Santos. 

Em paralelo às ações de reivindicação da área como direito à moradia pelo Movimento Popular por Moradia (MPM) e a luta pela suspensão de ordem de reintegração, a cozinha comunitária foi ganhando corpo. No início, o alimento era cozido na lenha, em um espaço externo. Com apoio de doações foi possível adquirir um fogão industrial e se instalar em uma estrutura de alvenaria que já existia antes da ocupação. A quantidade de refeições também teve mudanças. Como as famílias não traziam alimento na bagagem foi necessário fornecer café, almoço e janta. Hoje, com hortas individuais nos lotes e a horta comunitária de 15 mil m², a equipe de 5 mulheres da cozinha comunitária prepara 2 a 3 almoços por semana para uma maioria de ocupantes da área composta por crianças, pessoas idosas, migrantes e refugiados haitianos. 

Juliana na cozinha comunitária da Ocupação Nova Esperança. Foto: Giorgia Prates

“A fonte de alimentos é toda de doação. O dia que tem carne, feijão e arroz a gente faz. O dia que só tem polenta a gente faz também. Tem dia que cozinhamos para 300 pessoas, tem dia que dá apenas para 100 pessoas, vamos seguindo”, pontua Juliana, ao relatar que o poder público não prestou apoio em nenhum momento.

Cozinheira, Juliana teve de sair de uma casa em que pagava R$ 450 por mês de aluguel quando perdeu o emprego, no início da pandemia. Mãe de oito filhos, sem pensão paterna, e com auxílio de R$280 mensal do Bolsa-Família, ela foi uma das primeiras pessoas a chegar na ocupação. A cozinha foi o lugar de contribuição com o coletivo, mas também de encontro com histórias semelhantes à sua e porque não, de formação sobre direitos. “Somos cinco mulheres que cuidam sozinhas dos filhos. Conversamos muito sobre nossa realidade”, relata.

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Ações: Biodiversidade e Soberania Alimentar

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