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Demarcação, já! Em defesa das terras indígenas


A demarcação de terras indígenas é um direito garantido desde a Constituição de 1988 e que não vem sendo cumprido.

Foto: Otto Ramos/Mídia Ninja

A posse pelo território é base de tudo. A terra para nós significa muito mais do que significa para os não indígenas. Nós lutamos pela vida! É uma terra que não se negocia, se cuida! A luta é uma mensagem que vem de muitas gerações, para que nossas futuras gerações não tenham que vivenciar todo esse desmazelo que estamos passando hoje, pela vida dos que estão crescendo e dos que também virão.

As ações genocidas do governo são muito fortes, querem nos exterminar para tomar posse dos nossos territórios, nos transformar em “cidadãos civilizados” e manter nossa história e nossa cultura relatadas apenas em livros, como parte da história. E muitos, enganados, acreditam que os povos indígenas não existem mais, quando na verdade há muitos povos e diversidade de culturas no Brasil.

A demarcação de terras indígenas é um direito garantido desde a Constituição de 1988 e que não vem sendo cumprido, uma vez que o Estado vem retrocedendo as demarcações por interesses capitalistas, para resolver a crise econômica do país. O Estado tem sido negligente nas demarcações de terras indígenas, o que é o motivo principal de conflitos.

 A bancada ruralista procura de toda forma diminuir nosso direito à terra com a intenção de favorecer a exploração. É muito mais fácil negociar nossas terras sem sabermos. Nossas terras estão sendo negociadas por aqueles que só pensam em si mesmos. Segundo o Artigo 231 da Constituição Federal de 1988, é reconhecido aos índios o direito originário sobre as terras que tradicionalmente ocupam e, apesar de existirem leis que nos amparam, assegurar que nossos direitos sejam garantidos e respeitados tem sido tarefa árdua, muitas terras são invadidas e têm seus recursos explorados ilegalmente.

O Estado é a favor da exploração de minérios em terras indígenas, favorece a retirada dos nossos recursos naturais. Por esses vários motivos vamos a Brasília fazer ecoar nossas vozes. Sofremos muita pressão política nas questões de posse da terra, saúde e educação diferenciada.

No Brasil, na visão do capital, preservar a terra não tem mais importância, a utilidade agora é produzir, mesmo que tenha que passar por cima de nós, indígenas, de forma genocida. Violar nossas terras, nossa cultura, nossa espiritualidade, nossa vida, faz parte do plano desse atual governo em nome do capitalismo.

A atual conjuntura não nos favorece, não vivemos bons tempos. Enquanto os políticos dormem em paz em suas camas, a violência é vivida e sofrida diariamente pelos povos indígenas; somos envenenados pelo mercúrio e substâncias tóxicas, sangue é derramado, é uma situação de extrema necessidade.

Nós lutamos pela regularização dos nossos territórios, somos linha de frente para impedir os ataques anti-indígenas e contra a demarcação de terra indígena.

*Lívia Kumaruara é indígena do povo Kumaruara, coordenadora do Coletivo de Estudantes de Direito Indígenas e Quilombolas  da Universidade Federal do Oeste do Pará (CEDIQ), membro do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA).

:: Este artigo integra a publicação Tapajós: informes de uma terra em resistência - 2ª edição. Acesse aqui a publicação.

 



Ações: Conflitos Fundiários
Eixos: Terra, território e justiça espacial