Brasil de Fato | PF concluirá inquérito sobre massacre de Quedas do Iguaçu/PR em 30 dias
Fatos que contestam tese de legítima defesa da PM serão levados em conta no relatório final, afirma delegado de Cascavel
Fonte: Brasil de Fato
Por Júlio Carignano
As investigações do massacre ocorrido contra cerca de 30 integrantes do acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu (PR), no dia 7 de abril, serão concluídas no prazo de um mês. A informação foi repassada pelo delegado chefe da Polícia Federal de Cascavel, Celso Rogério Mochi, nesta quinta-feira (2) em entrevista coletiva à imprensa.
As exumações dos corpos dos sem terra Vilmar Bordin e Leonir Orbach, mortos por disparos de policiais militares na ocasião, foram realizadas na segunda-feira (30/5) em Três Barras do Paraná, e na quarta-feira (1/6), em Francisco Beltrão. O laudo das novas perícias será apresentado dentro de um mês, juntamente com a conclusão do inquérito.
As exumações foram acompanhadas pelo Ministério Público, Polícia Civil, Polícia Militar e advogados do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. “As perícias tiveram o objetivo de sanar dúvidas apontadas na investigação e divergências em depoimentos, especialmente a informação que um dos mortos teria recebido um disparo de arma de fogo na cabeça”, falou o delegado. “A priori a suspeita de execução de uma das vítimas fatais não se confirma, porém, a resposta definitiva sobre isso só acontecerá com a apresentação do laudo”, completou.
“Excesso na legítima defesa”
Celso Mochi foi questionado sobre as teses de confronto e legítima defesa, uma vez que uma das vítimas fatais e dois feridos foram atingidos pelas costas. “É uma informação relevante que será levada em conta na conclusão do inquérito”, ressaltou.
Outra questão abordada na coletiva foram os registros da própria PM que apontam o uso de 128 projéteis durante a operação. “Tecnicamente, em Direito, poder ser aventada a possibilidade de excesso na legítima defesa. Mas é algo que somente será apontado no encerramento das investigações”, apontou Mochi.
Outro problema apontado pela defesa do MST é a destruição da cena do crime, uma vez que os corpos das duas vítimas fatais foram movidos do local da morte e levados para a delegacia pela própria PM, quando deveriam ter sido retiradas pelo Instituto Médico Legal. A perícia da Polícia Civil ocorreu após 24h, quando a caminhonete usada pelos integrantes do MST no momento dos fatos, alvejada com cerca de 30 tiros, foi levada pela corporação.
Segundo o delegado, antes da conclusão das investigações serão realizadas novas oitivas, sem informar que pessoas serão ouvidas. A investigação da Polícia Federal corre em segredo de Justiça.
Ações: Conflitos Fundiários
Eixos: Política e cultura dos direitos humanos