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Sementes e mudas crioulas para atender a fome e fortalecer a biodiversidade - Paraná


Especial 8M: Mulheres que alimentam a resistência

Com a instalação da pandemia e necessidade de isolamento social, as feiras e encontros para partilha de variedades de sementes e mudas pelas guardiãs de sementes crioulas foram temporariamente suspensas. Com isso, a pandemia postergou, para um futuro ainda indefinido, a boa aglomeração gerada pelos mais de 30 eventos previstos para o ano de 2020 no estado do Paraná e estados vizinhos, como São Paulo e Santa Catarina.

Ofício e fonte de renda de centenas de trabalhadoras da terra, no campo, na cidade e na floresta, a troca e comercialização das sementes também é uma prática essencial para o fortalecimento da agrobiodiversidade. Com ela, campo e cidade são beneficiados. A variedade de alimentos saudáveis garante uma diversidade na alimentação das famílias agricultoras e população urbana, tão essencial ao fortalecimento da saúde em tempos pandêmicos.

Para girar a roda entre a produção, venda e recebimento de sementes crioulas do estado a Rede de Sementes da Agroecologia adquiriu sementes e mudas de guardiãs de várias regiões no segundo semestre de 2020. A entrega dos kits de 185 variedades de sementes crioulas, mudas, plantas medicinais e ramas tem gerado frutos, literalmente, desde então para 23 comunidades urbanas, quilombolas, de áreas indígenas, da agricultura familiar camponesa e de assentamentos da reforma agrária, de quatro regiões do estado, que receberam os kits.

Do Acampamento agroflorestal José Lutzemberg, em Antonina (PR), vieram 556 mudas, muitas delas de variedades nativas. Taperebá, araçá-boi, jabuticaba, uvaia, mimosa, ingá, juçara e uma infinidade de tipos de bananas, entre outras. Espécies pouco presentes nos mercados ou mesmo no conhecimento popular, mas que tem sido objeto de pesquisa (sim, as guardiãs são pesquisadoras de um conhecimento vivo) e de trabalho com a terra.

A agricultora Luzinete Souza Oliveira compõe um coletivo de dez mulheres do Acampamento. Do trabalho na terra e da luta pela pedaço de chão junto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que ela aprendeu sobre os direitos. “As durezas da vida são um aprendizado”, dizLuzinete em uma das investidas na preservação de variedades nativas. Foto: Maria Francelino

Consciente do momento de fome, em especial das pessoas mais vulneráveis, ela lamenta o maior impacto da pandemia entre quem já se encontrava em vulnerabilidade. “Já havia fome no mundo antes da doença, hoje ela aflora mais porque sem trabalho, sem dinheiro você fica mais vulnerável. Aqui temos a terra que nos dá alimento, mas pessoas que moram em casa alugada, pagam luz e aluguel aperta mais. A pandemia traz a fome para aquele mais oprimido”, destaca.

Além da oferta de mudas crioulas de várias espécies, ela relata que uma vez ao mês é colhido uma leva de banana, batata-doce, pupunha, salsinha e outras variedades da temporada para compor iniciativas solidárias, como a Marmitas da Terra – uma iniciativa do MST-PR de produção e entrega de marmitas em Curitiba e região metropolitana para comunidades e população em situação de rua. A vontade era de doar mais, mas tem a dificuldade da logística. Como podem, as mulheres têm atuado para garantir um prato mais colorido, nutritivo e com a memória da biodiversidade paranaense.

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